Nota dos impressores.

A Mensagem dada por Silo em Julho de 2002 consta de três partes: o Livro; a Experiência e o Caminho.

O Livro é conhecido há já algum tempo como "O Olhar Interno".

A Experiência está exposta através de oito cerimónias.

O Caminho é um conjunto de reflexões e sugestões.

Nesta compilação está a Mensagem completa. Circula impressa e através das redes informáticas.

 

© Silo. Segunda compilação, 2007

O Livro

I. A meditação

1.    Aqui se conta como se converte o sem-sentido da vida em sentido e plenitude.

2.    Aqui há alegria, amor ao corpo, à natureza, à humanidade e ao espírito.

3.    Aqui renegam-se os sacrifícios, o sentimento de culpa e as ameaças do além.

4.    Aqui não se opõe o terreno ao eterno.

5.    Aqui fala-se da revelação interior, à qual chega todo aquele que cuidadosamente medita em humilde busca.

início

II. Disposição para compreender

1.    Sei como te sentes porque posso experimentar o teu estado, mas tu não sabes como se experimenta o que digo. Por conseguinte, se te falo com desinteresse daquilo que torna feliz e livre o ser humano, vale a pena que tentes compreender.

2.    Não penses que vais compreender discutindo comigo. Se julgas que por contrariar isto o teu entendimento se aclara podes fazê-lo, mas não é esse o caminho que cabe neste caso.

3.    Se me perguntas qual é a atitude que convém, dir-te-ei que é a de meditar em profundidade e sem pressa no que te explico aqui.

4.    Se replicas que tens coisas mais urgentes com que te ocupares, responderei que, sendo o teu desejo dormir ou morrer, não farei nada para me opor.

5.    Não argumentes tão-pouco que te desagrada o meu modo de apresentar as coisas, porque isso não dizes da casca quando te agrada o fruto.

6.    Exponho do modo que me parece conveniente, não daquele que seria desejável para quem aspira a coisas afastadas da verdade interior.

início

III. O sem-sentido

Em muitos dias descobri este grande paradoxo: aqueles que levaram o fracasso no seu coração puderam iluminar o último triunfo; aqueles que se sentiram triunfadores, ficaram no caminho como vegetais de vida difusa e apagada. Em muitos dias cheguei eu à luz, vindo das mais obscuras escuridões, guiado não por ensinamentos, mas por meditação.

Eis o que disse a mim mesmo no primeiro dia:

1.    Não há sentido na vida se tudo termina com a morte.

2.    Toda a justificação das ações, sejam estas desprezíveis ou excelentes, é sempre um novo sonho que deixa o vazio pela frente.

3.    Deus é algo de incerto.

4.    A fé é algo tão variável como a razão e o sonho.

5.    "O que se deve fazer" pode discutir-se na totalidade e não há nada que venha apoiar definitivamente as explicações.

6.    "A responsabilidade" de quem se compromete com alguma coisa não é maior do que a responsabilidade daquele que não se compromete.

7.    Movo-me segundo os meus interesses e isto não me converte em cobarde, mas tão-pouco em herói.

8.    "Os meus interesses" não justificam nem desacreditam nada.

9.    "As minhas razões" não são melhores nem piores do que as razões de outros.

10. A crueldade horroriza-me, mas não por isso e em si mesma é pior ou melhor do que a bondade.

11.  O dito hoje, por mim ou por outros, não vale amanhã.

12. Morrer não é melhor que viver ou não ter nascido, mas também não é pior.

13. Descobri, não por ensinamento, mas sim por experiência e meditação, que não há sentido na vida se tudo termina com a morte.

início

IV. A dependência

O dia segundo.

1.    Tudo o que faço, sinto e penso não depende de mim.

2.    Sou variável e dependo da ação do meio. Quando quero mudar o meio ou o meu "eu", é o meio que me muda. Então procuro a cidade ou a natureza, a redenção social ou uma nova luta que justifique a minha existência... Em cada um desses casos, o meio leva-me a decidir por uma ou por outra atitude. Dessa maneira, os meus interesses e o meio aqui me deixam.

3.    Digo, então, que não importa o quê ou quem decide. Digo nessas ocasiões que tenho que viver, já que estou em situação de viver. Digo tudo isto, mas não há nada que o justifique. Posso decidir-me, vacilar ou permanecer. De qualquer maneira, uma coisa é melhor que outra, provisoriamente, mas não há "melhor" nem "pior" em definitivo.

4.    Se alguém me disser que aquele que não come morre, responder-lhe-ei que assim é, com efeito, e que é obrigado a comer aguilhoado pelas suas necessidades, mas não acrescentarei a isso que a sua luta por comer justifica a sua existência. Também não direi que isso seja mau. Direi, com simplicidade, que se trata de um facto individual ou coletivamente necessário para a subsistência, mas sem sentido no momento em que se perde a última batalha.

5.    Direi, além disso, que me solidarizo com a luta do pobre e do explorado e do perseguido. Direi que me sinto "realizado" com tal identificação, mas compreenderei que nada justifico.

início

V. Suspeita do sentido

O dia terceiro.

1.    Às vezes adiantei-me a factos que depois aconteceram.

2.    Às vezes captei um pensamento longínquo.

3.    Às vezes descrevi lugares que nunca visitei.

4.    Às vezes relatei com exatidão o que aconteceu na minha ausência.

5.    Às vezes uma alegria imensa surpreendeu-me.

6.    Às vezes uma compreensão total invadiu-me.

7.    Às vezes uma comunhão perfeita com tudo extasiou-me.

8.    Às vezes rompi os meus devaneios e vi a realidade de um modo novo.

9.    Às vezes reconheci como se visse novamente algo que via pela primeira vez.

... E tudo isso deu-me que pensar. Dou-me bem conta que, sem essas experiências, não poderia ter saído do sem-sentido.

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VI. Sono e despertar

O dia quarto.

1.    Não posso tomar por real o que vejo nos meus sonhos; nem o que vejo em semissono; nem o que vejo desperto, mas a devanear.

2.    Posso tomar por real o que vejo desperto e sem devaneio. Isto não se refere ao que registam os meus sentidos, mas sim às atividades da minha mente quando se referem aos "dados" pensados. Porque os dados ingénuos e duvidosos são entregues pelos sentidos externos e também pelos internos, e também pela memória. O que é válido é que a minha mente sabe disso quando está desperta e crê nisso quando está adormecida. Raras vezes perceciono o real de um modo novo e então compreendo que o que se vê normalmente parece-se com o sono ou parece-se com o semissono.

Há uma forma real de estar desperto: é a que me tem levado a meditar profundamente sobre o que foi dito até aqui. E é, além disso, a que me abriu a porta para descobrir o sentido de tudo o que existe.

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VII. Presença da força

O dia quinto.

1.    Quando estava realmente desperto, ia escalando de compreensão em compreensão.

2.    Quando estava realmente desperto e me faltava vigor para continuar a ascensão, podia extrair a Força de mim mesmo. Ela estava em todo o meu corpo. Toda a energia estava até nas mais pequenas células do meu corpo. Esta energia circulava e era mais veloz e intensa que o sangue.

3.    Descobri que a energia se concentrava nos pontos do meu corpo quando estes atuavam e se ausentava quando neles não havia ação.

4.    Durante as doenças, a energia faltava ou acumulava-se exatamente nos pontos afetados. Mas, se conseguia restabelecer a sua passagem normal, muitas doenças começavam a retroceder.

Alguns povos conheceram isto e atuaram restabelecendo a energia mediante diversos procedimentos, que hoje nos são estranhos.

Alguns povos conheceram isto e atuaram comunicando essa energia a outros. Então produziram-se "iluminações" de compreensão e até "milagres" físicos.

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VIII. Controlo da força

O dia sexto.

1.    Há uma forma de dirigir e concentrar a Força que circula pelo corpo.

2.    Há pontos de controlo no corpo. Deles depende o que conhecemos como movimento, emoção e ideia. Quando a energia atua nesses pontos, produzem-se as manifestações motrizes, emotivas e intelectuais.

3.    Conforme a energia atue mais interna ou superficialmente no corpo, surge o sono profundo, o semissono ou o estado de desperto... Certamente, as auréolas que rodeiam o corpo ou a cabeça dos santos (ou dos grandes despertos), nas pinturas das religiões, aludem a esse fenómeno da energia que, às vezes, se manifesta mais externamente.

4.    Há um ponto de controlo do estar-desperto-verdadeiro e há uma forma de levar a Força até ele.

5.    Quando se leva a energia a esse lugar todos os outros pontos de controlo movem-se alteradamente.

Ao entender isto e ao lançar a Força a esse ponto superior, todo o meu corpo sentiu o impacto de uma energia enorme e ela golpeou fortemente a minha consciência, e ascendi de compreensão em compreensão. Mas também observei que podia descer em direção às profundidades da mente se perdesse o controlo da energia. Recordei então as lendas sobre os "céus" e os "infernos" vendo a linha divisória entre ambos os estados mentais.

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IX. Manifestações da energia

O dia sétimo.

1.    Esta energia em movimento podia "tornar-se independente" do corpo, mantendo a sua unidade.

2.    Esta energia unida era uma espécie de "duplo corpo" que correspondia à representação cenestésica do próprio corpo no interior do espaço de representação. Da existência deste espaço, bem como das representações que correspondiam às sensações internas do corpo, as ciências que tratavam dos fenómenos mentais não davam notícia suficiente.

3.    A energia desdobrada (quer dizer: imaginada como "fora" do corpo, ou "separada" da sua base material) dissolvia-se como imagem ou representava-se corretamente, dependendo da unidade interna que tivesse quem operava assim.

4.    Pude comprovar que a "exteriorização" dessa energia, que representava o próprio corpo como "fora" do corpo, produzia-se já nos níveis mais baixos da mente. Nesses casos, sucedia que o atentado contra a unidade mais primária da vida provocava essa resposta para salvaguardar o ameaçado. Por isso, no transe de alguns médiuns, cujo nível de consciência era baixo e cuja unidade interna estava em perigo, estas respostas eram involuntárias e não eram reconhecidas como sendo produzidas por eles mesmos, mas sim atribuídas a outras entidades.

Os "fantasmas" ou "espíritos" de alguns povos ou de alguns adivinhos não eram senão os próprios "duplos" (as próprias representações) daquelas pessoas que se sentiam tomadas por eles. Como o seu estado mental estava escurecido (em transe), por terem perdido o controlo da Força, sentiam-se manejadas por seres estranhos que às vezes produziam fenómenos notáveis. Sem dúvida que muitos "endemoninhados" sofreram tais efeitos. O decisivo era, então, o controlo da Força.

Isto fazia variar por completo tanto a minha conceção da vida corrente, como da vida posterior à morte. Mediante estes pensamentos e experiências, fui perdendo fé na morte e desde então não creio nela, como não creio no sem-sentido da vida.

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X. Evidência do sentido

O dia oitavo.

1.    A real importância da vida desperta tornou-se-me patente.

2.    A real importância de destruir as contradições internas convenceu-me.

3.    A real importância de manejar a Força, a fim de conseguir unidade e continuidade, encheu-me de um alegre sentido.

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XI. O centro luminoso

O dia nono.

1.    Na Força estava a "luz" que provinha de um "centro".

2.    Na dissolução da energia havia um afastamento do centro e, na sua unificação e evolução, um correspondente funcionamento do centro luminoso.

Não me estranhou encontrar em antigos povos a devoção pelo deus-Sol e compreendi que, se alguns adoraram o astro porque dava vida à sua terra e à natureza, outros divisaram nesse corpo majestoso o símbolo de uma realidade maior.

Houve quem fosse mais longe ainda e recebesse desse centro incontáveis dons, que às vezes "desceram" como línguas de fogo sobre os inspirados, às vezes como esferas luminosas, às vezes como sarças ardentes que se apresentaram diante do temeroso crente.

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XII. Os descobrimentos

O dia décimo.

Poucos, mas importantes, foram os meus descobrimentos, que resumo deste modo:

1.    A Força circula pelo corpo involuntariamente, mas pode ser orientada por um esforço consciente. A consecução de uma mudança dirigida, no nível de consciência, oferece ao ser humano um importante vislumbre de libertação das condições "naturais" que parecem impor-se à consciência.

2.    No corpo existem pontos de controlo das suas diversas atividades.

3.    Há diferenças entre o estado de desperto-verdadeiro e outros níveis de consciência.

4.    Pode conduzir-se a Força ao ponto do real despertar (entendendo por "Força" a energia mental que acompanha determinadas imagens e por "ponto" a colocação de uma imagem num "lugar" do espaço de representação).

Estas conclusões fizeram-me reconhecer nas orações dos povos antigos, o gérmen de uma grande verdade que se obscureceu nos ritos e práticas externas, não tendo eles chegado a desenvolver o trabalho interno que, realizado com perfeição, põe o Homem em contacto com a sua fonte luminosa. Finalmente, dei-me conta de que os meus "descobrimentos" não o eram, mas sim que se deviam à revelação interior a que acede todo aquele que, sem contradições, procura a luz no seu próprio coração.

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XIII. Os princípios

Diferente é a atitude perante a vida e as coisas quando a revelação interna fere como o raio.

Seguindo os passos lentamente, meditando no dito e no ainda por dizer, podes converter o sem-sentido em sentido. Não é indiferente o que faças com a tua vida. A tua vida, submetida a leis, está exposta perante possibilidades a escolher. Eu não te falo de liberdade. Falo-te de libertação, de movimento, de processo. Não te falo de liberdade como algo quieto, mas sim de libertar-se passo a passo, como se vai libertando do necessário caminho percorrido aquele que se aproxima da sua cidade. Então, "o que se deve fazer" não depende de uma moral longínqua, incompreensível e convencional, mas sim de leis: leis de vida, de luz, de evolução.

Eis os chamados "Princípios" que podem ajudar na busca da unidade interior.

1.    Ir contra a evolução das coisas é ir contra si mesmo.

2.    Quando forças algo para um fim, produzes o contrário.

3.    Não te oponhas a uma grande força. Retrocede até que ela se debilite; então, avança com resolução.

4.    As coisas estão bem quando avançam em conjunto, não isoladamente.

5.    Se para ti estão bem o dia e a noite, o verão e o inverno, superaste as contradições.

6.    Se persegues o prazer, acorrentas-te ao sofrimento. Mas, contanto que não prejudiques a tua saúde, goza sem inibição quando a oportunidade se apresente.

7.    Se persegues um fim, acorrentas-te. Se tudo o que fazes é realizado como se fosse um fim em si mesmo, libertas-te.

8.    Farás desaparecer os teus conflitos quando os entendas na sua última raiz e não quando os queiras resolver.

9.    Quando prejudicas os demais, ficas acorrentado. Mas, se não prejudicas outros, podes fazer tudo o que queiras com liberdade.

10. Quando tratas os outros como queres que te tratem, libertas-te.

11.  Não importa em que fação te puseram os acontecimentos. O que importa é que compreendas que tu não escolheste nenhuma fação.

12. Os atos contraditórios ou unitivos acumulam-se em ti. Se repetes os teus atos de unidade interna já nada poderá deter-te.

Serás como uma força da Natureza quando à sua passagem não encontra resistência. Aprende a distinguir aquilo que é dificuldade, problema, inconveniente, disto que é contradição. Se aqueles te movem ou te incitam, esta imobiliza-te num círculo fechado.

Quando encontres uma grande força, alegria e bondade no teu coração, ou quando te sintas livre e sem contradições, imediatamente agradece no teu interior. Quando te aconteça o contrário, pede com fé e aquele agradecimento que acumulaste voltará convertido e ampliado em benefício.

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XIV. O guia do caminho interno

Se compreendeste o que foi explicado até aqui, podes então experimentar, mediante um simples trabalho, a manifestação da Força. Ora bem, não é igual observares uma posição mental mais ou menos correta (como se se tratasse de uma disposição para uma atividade técnica) a assumires um tom e uma abertura emotiva próxima daquela que os poemas inspiram. É por isso que a linguagem usada para transmitir estas verdades tende a facilitar essa postura, que põe mais facilmente em presença da perceção interna e não de uma ideia acerca da "perceção interna".

Agora segue com atenção o que te vou explicar, já que trata da paisagem interior que podes encontrar ao trabalhar com a Força e das direções que podes imprimir aos teus movimentos mentais:

"Pelo caminho interno podes andar escurecido ou luminoso. Atenta às duas vias que se abrem diante de ti.

Se deixas que o teu ser se lance em direção a regiões obscuras, o teu corpo ganha a batalha e ele domina. Então, brotarão sensações e aparências de espíritos, de forças, de recordações. Por aí desce-se mais e mais. Ali estão o Ódio, a Vingança, a Estranheza, a Possessão, os Ciúmes, o Desejo de Permanecer. Se desces mais ainda, invadir-te-ão a Frustração, o Ressentimento e todos aqueles devaneios e desejos que têm provocado ruína e morte à humanidade.

Se impeles o teu ser em direção luminosa, encontrarás resistência e fadiga a cada passo. Esta fadiga da ascensão tem culpados. A tua vida pesa, as tuas recordações pesam, as tuas ações anteriores impedem a ascensão. Esta escalada é difícil por ação do teu corpo que tende a dominar.

Nos passos da ascensão encontram-se regiões estranhas, de cores puras e de sons não conhecidos.

Não fujas da purificação que atua como o fogo e que horroriza com os seus fantasmas.

Afasta o sobressalto e o desalento.

Afasta o desejo de fugir para regiões baixas e obscuras.

Afasta o apego às recordações.

Fica em liberdade interior, indiferente ao devaneio da paisagem, com resolução na ascensão.

A luz pura clareia nos cumes das altas cadeias montanhosas e as águas das mil-cores descem, por entre melodias irreconhecíveis, para mesetas e pradarias cristalinas.

Não temas a pressão da luz que te afasta do seu centro cada vez com mais força. Absorve-a como se fosse um líquido ou um vento porque nela, certamente, está a vida.

Quando, na grande cadeia montanhosa, encontrares a cidade escondida, deves conhecer a entrada. Mas isto sabê-lo-ás no momento em que a tua vida seja transformada. As suas enormes muralhas estão escritas em figuras, estão escritas em cores, estão ‘sentidas’. Nesta cidade guarda-se o feito e o por fazer... Mas para o teu olho interno é opaco o transparente. Sim, os muros são-te impenetráveis!

Toma a Força da cidade escondida. Volta ao mundo da vida densa, com a tua fronte e as tuas mãos luminosas."

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XV. A experiência de paz e a passagem da força

1.    Relaxa plenamente o teu corpo e aquieta a mente. Então, imagina uma esfera transparente e luminosa que, descendo para ti, acaba por alojar-se no teu coração. Reconhecerás em seguida que a esfera deixa de aparecer como imagem para se transformar em sensação dentro do peito.

2.    Observa como a sensação da esfera se expande lentamente a partir do teu coração para fora do corpo, ao mesmo tempo que a tua respiração se torna mais ampla e profunda. Ao chegar a sensação aos limites do corpo, podes deter aí toda a operação e registar a experiência de paz interior. Nela podes permanecer o tempo que te pareça adequado. Então, faz retroceder essa expansão anterior (chegando, como ao princípio, ao coração) para te desprenderes da tua esfera e concluir o exercício calmo e reconfortado. Este trabalho é chamado "experiência de paz".

3.    Porém, ao invés, se quisesses experimentar a passagem da Força, em vez de retroceder na expansão deverias aumentá-la, deixando que as tuas emoções e todo o teu ser a sigam. Não trates de pôr a tua atenção na respiração... Deixa que ela atue por si só, enquanto segues a expansão fora do teu corpo.

4.    Devo repetir-te isto: a tua atenção, em tais momentos, deve estar posta na sensação da esfera que se expande. Se não o consegues, convém que te detenhas e o tentes noutra oportunidade. De qualquer maneira, se não produzes a passagem, poderás experimentar uma interessante sensação de paz.

5.    Se, ao invés, foste mais longe, começarás a experimentar a passagem. Das tuas mãos e outras zonas do corpo chegar-te-á um tom de sensação diferente do habitual. Depois, sentirás ondulações progressivas e, em pouco tempo, brotarão com vigor imagens e emoções. Deixa então que se produza a passagem...

6.    Ao receber a Força, percecionarás a luz ou estranhos sons, dependendo do teu particular modo de representação habitual. Em qualquer caso, importante será a experimentação da ampliação da consciência, um de cujos indicadores deverá ser uma maior lucidez e disposição para compreender o que ocorre.

7.    Quando desejares, podes terminar com esse singular estado (se é que antes não se foi diluindo pelo simples decorrer), imaginando ou sentindo que a esfera se contrai e depois sai de ti, do mesmo modo que chegou ao começar tudo isso.

8.    Interessa compreender que numerosos estados alterados de consciência foram e são conseguidos, quase sempre, pondo em marcha mecanismos similares aos descritos. No entanto, são-no revestidos de estranhos rituais ou às vezes reforçados com práticas de esgotamento, desenfreamento motriz, repetição e posturas que, em todos os casos, alteram a respiração e distorcem a sensação geral do intracorpo. Deves reconhecer nesse campo a hipnose, a mediunidade e também a ação de drogas, que, atuando por outra via, produzem semelhantes alterações. E, claro, todos os casos mencionados têm como signo o não controlo e o desconhecimento do que se passa. Desconfia dessas manifestações e considera-as simples "transes", pelos quais passaram os ignorantes, os experimentadores e ainda os "santos", segundo contam as lendas.

9.    Se trabalhaste observando o recomendado, pode acontecer, não obstante, que não tenhas conseguido a passagem. Isso não se pode converter em foco de preocupação, mas sim em indicador de falta de "soltura" interior, o que poderia refletir muita tensão, problemas na dinâmica da imagem e, em suma, fragmentação no comportamento emotivo... Coisa que, por outro lado, estará presente na tua vida quotidiana.

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XVI. Projeção da força

1.    Se experimentaste a passagem da Força, poderás compreender como, baseando-se em fenómenos similares, mas sem nenhuma compreensão, distintos povos puseram em marcha ritos e cultos que depois se multiplicaram sem cessar. Por meio de experiências do tipo atrás comentado, muitas pessoas sentiram os seus corpos "desdobrados". A experiência da Força deu-lhes a sensação de que podiam projetar para fora de si esta energia.

2.    A Força foi "projetada" para outros e também para objetos particularmente "aptos" para recebê-la e conservá-la. Confio em que não te será difícil entender a função cumprida por certos sacramentos em distintas religiões e, igualmente, o significado de lugares sagrados e de sacerdotes supostamente "carregados" com a Força. Quando alguns objetos foram adorados com fé nos templos e rodeados de cerimónia e rito, certamente "devolveram" aos crentes a energia acumulada por meio de oração repetida. É uma limitação ao conhecimento do facto humano que, quase sempre, se tenha visto estas coisas pela explicação externa, de acordo com a cultura, o espaço, a história e a tradição, quando a experiência interna básica é um dado essencial para entender tudo isto.

3.    Este "projetar", "carregar" e "restituir" a Força, voltará a ocupar-nos mais adiante. Mas desde já te digo que o mesmo mecanismo continua a operar ainda em sociedades dessacralizadas, onde os líderes e os homens de prestígio estão nimbados de uma especial representação para aquele que os vê e que gostaria mesmo de "tocar-lhes" ou apoderar-se de um fragmento das suas roupas ou dos seus utensílios.

4.    Porque qualquer representação do "alto" vai do olho para cima da linha normal do olhar. E "altas" são as personalidades que "possuem" a bondade, a sabedoria e a força. E no "alto" estão as hierarquias e os poderes e as bandeiras e o Estado. E nós, comuns mortais, devemos "ascender" na escala social e aproximarmo-nos do poder a todo o custo. Que mal estamos, manejados ainda por esses mecanismos que coincidem com a representação interna, com a nossa cabeça no "alto" e os nossos pés colados à terra. Que mal estamos, quando se crê nessas coisas (e crê-se porque têm a sua "realidade" na representação interna). Que mal estamos, quando o nosso olhar externo não é senão projeção ignorada do interno.

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XVII. Perda e repressão da força

1.    As maiores descargas de energia produzem-se por atos descontrolados. Estes são: a imaginação sem travão, a curiosidade sem controlo, a conversação desmedida, a sexualidade excessiva e a perceção exagerada (olhar, ouvir, degustar, etc., de maneira excessiva e sem objetivo). Mas deves reconhecer também que muitos procedem desse modo porque descarregam as suas tensões, que de outro modo seriam dolorosas. Considerando isto e vendo a função com que cumprem tais descargas, convirás comigo que não é razoável reprimi-las, mas sim que é melhor ordená-las.

2.    Quanto à sexualidade, deves interpretar corretamente isto: tal função não deve ser reprimida, porque nesse caso cria efeitos mortificantes e contradição interna. A sexualidade orienta-se e conclui no seu ato, mas não é conveniente que continue a afetar a imaginação ou a procurar novo objeto de possessão de modo obsessivo.

3.    O controlo do sexo por uma determinada "moral" social ou religiosa serviu desígnios que nada tinham a ver com a evolução, antes pelo contrário.

4.    A Força (a energia da representação da sensação do intracorpo) desdobrou-se para o crepuscular nas sociedades reprimidas e ali multiplicaram-se os casos de "endemoninhados", "bruxos", sacrílegos e criminosos de toda a espécie, que gozaram com o sofrimento e a destruição da vida e da beleza. Em algumas tribos e civilizações, os criminosos estiveram repartidos entre os que justiçaram e os justiçados. Noutros casos, perseguiu-se tudo o que era ciência e progresso, porque se opunha ao irracional, ao crepuscular e ao reprimido.

5.    Em certos povos primitivos, existe ainda a repressão do sexo, assim como noutros considerados de "civilização avançada". É evidente que, nuns e noutros, o signo destrutivo é grande, ainda que nos dois casos a origem de tal situação seja diferente.

6.    Se me pedes mais explicações, dir-te-ei que o sexo é na realidade santo e é o centro a partir do qual se impulsiona a vida e toda a criatividade. Assim como é também a partir daí que se impulsiona toda a destruição quando o seu funcionamento não está resolvido.

7.    Jamais creias nas mentiras dos envenenadores da vida quando se referem ao sexo como algo desprezível. Pelo contrário, nele há beleza e não em vão está relacionado com os melhores sentimentos do amor.

8.    Sê cuidadoso então e considera-o como uma grande maravilha que se deve tratar com delicadeza, sem convertê-lo em fonte de contradição ou desintegração da energia vital.

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XVIII. Ação e reação da força

Expliquei-te anteriormente: "Quando encontrares uma grande força, alegria e bondade no teu coração, ou quando te sentires livre e sem contradições, imediatamente agradece no teu interior."

1.    "Agradecer" significa concentrar os estados de ânimo positivos associados a uma imagem, a uma representação. Esse estado positivo, assim ligado, permite que em situações desfavoráveis, por evocar uma coisa, surja aquela que a acompanhou em momentos anteriores. Como, além disso, esta "carga" mental pode estar elevada por repetições anteriores, ela é capaz de desalojar emoções negativas que determinadas circunstâncias pudessem impor.

2.    Por tudo isso, a partir do teu interior voltará ampliado em benefício aquilo que pedires, sempre que tiveres acumulado em ti numerosos estados positivos. E já não necessito de repetir que este mecanismo serviu (confusamente) para "carregar fora" objetos ou pessoas, ou então entidades internas que se "projetaram", crendo-se que atenderiam rogos e pedidos.

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XIX. Os estados internos

Deves adquirir, agora, suficiente perceção dos estados internos em que te podes encontrar ao longo da tua vida e, particularmente, ao longo do teu trabalho evolutivo. Não tenho outra maneira de fazer a descrição que não seja com imagens (neste caso, alegorias). Estas, segundo me parece, têm por virtude concentrar "visualmente" estados de ânimo complexos. Por outro lado, a singularidade de encadear tais estados como se fossem distintos momentos de um mesmo processo, introduz uma variante nas descrições sempre fragmentadas a que nos habituaram aqueles que se ocupam destas coisas.

1.    O primeiro estado, no qual prevalece o sem-sentido (aquele que mencionámos ao princípio), será chamado "vitalidade difusa". Tudo se orienta pelas necessidades físicas, mas estas são confundidas frequentemente com desejos e imagens contraditórias. Ali há escuridão nos motivos e nas atividades. Permanece-se nesse estado vegetando, perdido entre formas variáveis. Desse ponto só se pode evoluir por duas vias: a via da morte ou a de mutação.

2.    A via da morte põe-te em presença de uma paisagem caótica e escura. Os antigos conheceram esta passagem e quase sempre a situaram "abaixo da terra" ou nas profundezas abissais. Também alguns visitaram esse reino para depois "ressuscitar" em níveis luminosos. Capta bem isto de que "abaixo" da morte existe a vitalidade difusa. Talvez a mente humana relacione a desintegração mortal com posteriores fenómenos de transformação e, também, talvez associe o movimento difuso com o prévio ao nascimento. Se a tua direção é de ascensão, a "morte" significa um rompimento com a tua etapa anterior. Pela via da morte ascende-se em direção a outro estado.

3.    Chegando a ele, encontra-se o refúgio da regressão. Dali abrem-se dois caminhos: o do arrependimento e aquele outro que serviu para a ascensão, quer dizer: o caminho da morte. Se tomas o primeiro é porque a tua decisão tende a romper com a tua vida passada. Se regressas pelo caminho da morte, recais nos abismos com essa sensação de círculo fechado.

4.    Ora bem, disse-te que havia outra senda para escapar da vitalidade abismal, essa era a da mutação. Se escolhes essa via é porque queres emergir do teu penoso estado, mas sem estar disposto a abandonar alguns dos seus aparentes benefícios. É, pois, um falso caminho, conhecido como o da "mão torcida". Muitos monstros saíram das profundezas desse tortuoso atalho. Eles quiseram tomar os céus de assalto sem abandonar os infernos e, portanto, projetaram no mundo médio infinita contradição.

5.    Suponho que, ascendendo do reino da morte e pelo teu consciente arrependimento, alcançaste já a morada da tendência. Duas finas cornijas sustentam a tua morada: a conservação e a frustração. A conservação é falsa e instável. Caminhando por ela iludes-te com a ideia de permanência, mas na realidade desces velozmente. Se tomas o caminho da frustração, a tua subida é penosa, embora a única-não-falsa.

6.    De fracasso em fracasso, podes chegar ao próximo descanso a que se chama "morada do desvio". Cuidado com as duas vias que tens agora pela frente: ou tomas o caminho da resolução, que te leva à geração, ou tomas o do ressentimento, que te faz descer novamente para a regressão. Ali estás posto diante do dilema: ou te decides pelo labirinto da vida consciente (e o fazes com resolução) ou regressas ressentido à tua vida anterior. São numerosos os que, não se tendo conseguido superar, cortam ali as suas possibilidades.

7.    Mas tu, que ascendeste com resolução, encontras-te agora na pousada conhecida por "geração". Ali tens três portas: uma chama-se "Queda", outra "Tentativa" e a terceira "Degradação". A Queda leva-te diretamente às profundezas e só um acidente externo poderia empurrar-te para ela. É difícil que escolhas essa porta. Por outro lado, a porta da Degradação leva-te indiretamente aos abismos, desandando caminhos numa espécie de espiral turbulenta, em que continuamente reconsideras tudo o que se perdeu e tudo o que se sacrificou. Este exame de consciência que leva à Degradação é, decerto, um falso exame, no qual subestimas e desproporcionas algumas coisas que comparas. Tu cotejas o esforço da ascensão com aqueles "benefícios" que abandonaste. Porém, se olhas as coisas mais de perto, verás que não abandonaste nada por este motivo, mas sim por outros. A Degradação começa, pois, por falsear os motivos que, ao que parece, foram alheios à ascensão. Eu pergunto agora: O que atraiçoa a mente? Talvez os falsos motivos de um entusiasmo inicial? Talvez a dificuldade da empresa? Talvez a falsa recordação de sacrifícios que não existiram ou que foram impelidos por outros motivos? Eu digo-te e pergunto-te agora: a tua casa incendiou-se há algum tempo. Por isso, decidiste-te pela ascensão, ou agora pensas que por teres ascendido aquela se incendiou? Olhaste um pouco, por acaso, para o que aconteceu às outras casas dos arredores...? Não restam dúvidas de que deves escolher a porta média.

8.    Sobe pela escalinata da Tentativa e chegarás a uma cúpula instável. A partir daí, desloca-te por um corredor estreito e sinuoso que conhecerás como a "volubilidade", até chegar a um espaço amplo e vazio (como uma plataforma), que tem o nome de "espaço-aberto-da-energia".

9.    Nesse espaço, podes espantar-te com a paisagem deserta e imensa e com o aterrador silêncio dessa noite transfigurada por enormes estrelas imóveis. Ali, exatamente sobre a tua cabeça, verás cravada no firmamento a insinuante forma da Lua Negra... Uma estranha lua eclipsada que se opõe exatamente ao Sol. Lá deves esperar a alvorada, paciente e com fé, pois nada de mau pode acontecer se te mantiveres calmo.

10. Poderia suceder em tal situação que quisesses arranjar uma saída imediata dali. Se isso acontece, poderias encaminhar-te às apalpadelas para qualquer lugar, para não ter de esperar o dia prudentemente. Deves recordar que ali (na escuridão) qualquer movimento é falso e genericamente é chamado de "improvisação". Se, esquecendo-te do que agora menciono, começasses a improvisar movimentos, tem a certeza de que serias arrastado num turbilhão por entre sendas e moradas até ao fundo mais escuro da dissolução.

11.  Que difícil se torna compreender que os estados internos estão encadeados uns aos outros! Se visses que lógica inflexível tem a consciência, notarias que, na situação descrita, quem improvisa às cegas fatalmente começa a degradar e a degradar-se; surgem depois nele os sentimentos de frustração e vai caindo a seguir no ressentimento e na morte, sobrevindo o esquecimento de tudo o que algum dia chegou a percecionar.

12. Se, na planura, consegues chegar ao dia, surgirá diante dos teus olhos o radiante Sol, que te há de iluminar pela primeira vez a realidade. Então, verás que em tudo o que existe vive um Plano.

13. É difícil que caias dali, salvo se voluntariamente quiseres descer para regiões mais escuras para levar a luz às trevas.

Não é valioso desenvolver mais estes temas porque sem experiência enganam, transportando para o campo do imaginário aquilo que é realizável. Que valha o que se disse até aqui. Se o que se explicou não te fosse útil, o que poderias objetar, já que nada tem fundamento e razão para o ceticismo, próximo da imagem de um espelho, do som de um eco, da sombra de uma sombra.

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XX. A realidade interior

1.    Repara nas minhas considerações. Nelas não haverás de intuir mais do que alegóricos fenómenos e paisagens do mundo externo. Mas também nelas há descrições reais do mundo mental.

2.    Também não deves crer que os "lugares" por onde passas no teu andar, tenham algum tipo de existência independente. Semelhante confusão fez frequentemente obscurecer profundos ensinamentos e assim, até hoje, alguns creem que céus, infernos, anjos, demónios, monstros, castelos assombrados, cidades remotas e outras coisas mais têm realidade visível para os "iluminados". O mesmo preconceito, mas com interpretação inversa, apresou céticos sem sabedoria, que tomaram essas coisas por simples ilusões ou alucinações padecidas por mentes febris.

3.    Devo repetir, então, que em tudo isto deves compreender que se trata de verdadeiros estados mentais, ainda que simbolizados com objetos próprios do mundo externo.

4.    Tem em conta o que se disse e aprende a descobrir a verdade por detrás das alegorias que em ocasiões desviam a mente mas que noutras traduzem realidades impossíveis de captar sem representação.

Quando se falou das cidades dos deuses aonde quiseram chegar numerosos heróis de diferentes povos; quando se falou de paraísos, onde deuses e homens conviviam em original natureza transfigurada; quando se falou de quedas e dilúvios, disse-se grande verdade interior.

Depois os redentores trouxeram as suas mensagens e chegaram a nós em dupla natureza, para restabelecer aquela nostálgica unidade perdida. Também, então, se disse grande verdade interior.

No entanto, quando se disse tudo aquilo colocando-o fora da mente, errou-se ou mentiu-se.

Inversamente, o mundo externo confundido com o interno olhar obriga este a percorrer novos caminhos.

Assim, hoje voa em direção às estrelas o herói desta idade. Voa através de regiões antes ignoradas. Voa para fora do seu mundo e, sem sabê-lo, vai impelido até ao interno e luminoso centro.

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A Experiência

Ofício

Realiza-se a pedido de um conjunto de pessoas.

Oficiante: A minha mente está inquieta.

Conjunto: A minha mente está inquieta.

Oficiante: O meu coração sobressaltado.

Conjunto: O meu coração sobressaltado.

Oficiante: O meu corpo tenso.

Conjunto: O meu corpo tenso.

Oficiante: Afrouxo o meu corpo, o meu coração e a minha mente.

Conjunto: Afrouxo o meu corpo, o meu coração e a minha mente.

Se possível, os participantes estão sentados. O Auxiliar levanta-se e cita um Princípio ou pensamento de "O Olhar Interno" de acordo com as circunstâncias, convidando à meditação sobre o mesmo. Passam uns minutos e, finalmente, o Oficiante em pé lê lentamente as frases seguintes, detendo-se em cada uma delas.

Oficiante: Relaxa plenamente o teu corpo e aquieta a mente...

Então, imagina uma esfera transparente e luminosa que, descendo até ti, acaba por alojar-se no teu coração...

Reconhecerás que a esfera começa a transformar-se numa sensação expansiva dentro do teu peito...

A sensação da esfera expande-se do teu coração para fora do corpo, enquanto amplias a tua respiração...

Nas tuas mãos e no resto do corpo terás novas sensações...

Sentirás ondulações progressivas e brotarão emoções e lembranças positivas...

Deixa que se produza a passagem da Força livremente. Essa Força que dá energia ao teu corpo e mente...

Deixa que a Força se manifeste em ti...

Trata de ver a sua luz dentro dos teus olhos e não impeças que ela opere por si só...

Sente a Força e a sua luminosidade interna...

Deixa que se manifeste livremente...

Auxiliar: Com esta Força que recebemos, concentremos a mente no cumprimento daquilo de que necessitamos realmente...

Convida todos a porem-se em pé para efetuarem o Pedido. Depois, decorre um tempo.

Oficiante: Paz, Força e Alegria!

Conjunto: Também para ti, Paz, Força e Alegria.

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Imposição

Realiza-se a pedido de uma ou várias pessoas. Oficiante e Auxiliar estão de pé.

Oficiante: A minha mente está inquieta.

Conjunto: A minha mente está inquieta.

Oficiante: O meu coração sobressaltado.

Conjunto: O meu coração sobressaltado.

Oficiante: O meu corpo tenso.

Conjunto: O meu corpo tenso.

Oficiante: Afrouxo o meu corpo, o meu coração e a minha mente.

Conjunto: Afrouxo o meu corpo, o meu coração e a minha mente.

Oficiante e Auxiliar sentam-se, deixando passar algum tempo. O Oficiante põe-se de pé.

Oficiante: Se queres receber a Força deves compreender que no momento da Imposição começarás a experimentar novas sensações. Sentirás ondulações progressivas e brotarão emoções e lembranças positivas. Quando isso aconteça, deixa que se produza a passagem da Força livremente...

Deixa que a Força se manifeste em ti e não impeças que ela opere por si só...

Sente a Força e a sua luminosidade interna...

Deixa que se manifeste livremente...

Passado algum tempo, o Auxiliar põe-se de pé.

Auxiliar: Quem deseja receber a Força, pode pôr-se de pé.

O Auxiliar convida, de acordo com o número de participantes, a permanecerem de pé ao lado dos assentos ou a formarem um círculo à volta do Oficiante. Passado um momento, o Oficiante começa a imposição. O Auxiliar, se for o caso, facilita os deslocamentos dos participantes e, ocasionalmente, acompanha alguns até aos seus lugares. Terminada a Imposição, dá-se um tempo de assimilação da experiência.

Auxiliar: Com esta Força que recebemos, concentremos a mente no cumprimento daquilo de que necessitamos realmente, ou então concentremos a mente naquilo que alguém muito querido necessita realmente.

Convida todos a porem-se de pé para que efetuem silenciosamente os seus pedidos. Às vezes, um dos participantes formula um Pedido para alguém presente ou ausente.

Decorre um tempo.

Oficiante: Paz, Força e Alegria!

Conjunto: Também para ti, Paz, Força e Alegria.

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Bem-estar

Realiza-se a pedido de um conjunto de pessoas. Os participantes, se possível, estão sentados. Oficiante e Auxiliar de pé.

Auxiliar: Estamos aqui reunidos para recordar os nossos entes queridos. Alguns deles têm dificuldades na sua vida afetiva, na sua vida de relação, ou na sua saúde. Para eles dirigimos os nossos pensamentos e os nossos melhores desejos.

Oficiante: Confiamos que chegue até eles o nosso pedido de bem-estar. Pensamos nos nossos entes queridos; sentimos a presença dos nossos entes queridos e experimentamos o contacto com os nossos entes queridos.

Auxiliar: Tomaremos um curto espaço de tempo para meditar nas dificuldades que sofrem essas pessoas...

Dá-se alguns minutos para que os participantes possam meditar.

Oficiante: Queríamos agora fazer sentir àquelas pessoas os nossos melhores desejos. Uma onda de alívio e bem-estar deve chegar a elas...

Auxiliar: Tomaremos um curto espaço de tempo para colocar mentalmente a situação de bem-estar que desejamos aos nossos entes queridos.

Dá-se alguns minutos para que os participantes possam concentrar a sua mente.

Oficiante: Concluiremos esta cerimónia dando a oportunidade, a quem assim o desejar, de sentir a presença daqueles entes muito queridos que, embora não estejam aqui no nosso tempo e no nosso espaço, se relacionam connosco na experiência do amor, da paz e da cálida alegria...

Dá-se um curto espaço de tempo.

Oficiante: Isto foi bom para outros, reconfortante para nós e inspirador para as nossas vidas. Saudamos a todos, imersos nesta corrente de bem-estar, reforçada pelos bons desejos dos aqui presentes.

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Proteção

Cerimónia de participação individual ou coletiva. Todos em pé. Oficiante e Auxiliar em frente às crianças e estas rodeadas pelos participantes.

Auxiliar: Esta cerimónia tem como objetivo dar participação às crianças na nossa comunidade.

Desde tempos antigos, as crianças foram objeto de cerimónias tais como batismos, imposições de nome, etc. Através delas reconheceu-se a mudança de situação, a mudança de etapa no ser humano.

Existiram e existem certas formalidades civis através das quais se faz constar o nascimento, o lugar em que o facto se produziu, etc. Mas a transcendência espiritual que acompanha uma cerimónia deste tipo nada tem a ver com a frieza dos factos reduzidos a escrito, estando sim ligada ao júbilo dos pais e da comunidade, ao serem apresentadas as crianças publicamente.

Esta é uma cerimónia através da qual o estado das crianças muda ao converterem-se em participantes de uma comunidade que se compromete a tomá-las a seu cargo no caso de circunstâncias infelizes as deixarem desamparadas.

Nesta cerimónia pede-se proteção para as crianças e a comunidade acolhe-as como a novos filhos.

Passado um tempo, o Oficiante dirige-se amavelmente aos presentes.

Oficiante: Pedimos proteção para estas crianças.

Auxiliar: Acolhemo-las com júbilo e comprometemo-nos a dar-lhes proteção.

Oficiante: Elevemos agora os nossos melhores desejos... Paz e alegria para todos!

Impõe amavelmente uma mão sobre a cabeça de cada criança e beija-a na fronte.

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Casamento

Todos de pé. Um ou vários casais. Oficiante e Auxiliar de frente para os casais.

Auxiliar: Desde tempos remotos, os casamentos foram cerimónias de mudança de estado das pessoas.

Quando alguém termina ou começa uma nova etapa da vida, costuma acompanhar essa situação com um determinado ritual. A nossa vida pessoal e social está ligada a rituais mais ou menos aceites pelos costumes. Saudamo-nos de manhã, e de forma diferente à noite; apertamos a mão a um conhecido; festejamos um aniversário, o fim dos estudos, ou uma mudança de trabalho. Os nossos desportos estão acompanhados de ritual e as nossas cerimónias religiosas, partidárias e cívicas colocam-nos na situação adequada conforme o caso.

O casamento é uma mudança importante no estado das pessoas e em todas as nações tal facto exige certas formalidades legais. Ou seja, a relação conjugal coloca os consortes numa nova situação em relação à comunidade e ao Estado. Mas quando um casal estabelece vínculos conjugais, fá-lo a pensar num novo estilo de vida, fá-lo com sentimento profundo e não com espírito formal.

Há, por conseguinte, nesta cerimónia de mudança de estado a intenção de estabelecer um vínculo novo e dentro do possível duradouro com outra pessoa. Há o desejo de receber do outro o melhor e dar ao outro o melhor. Há a intenção de levar o vínculo mais longe, trazendo ao mundo ou adotando crianças.

Vendo assim o casamento, concedemos importância à legalidade do vínculo, mas quanto ao sentido espiritual e emocional dizemos que só os cônjuges dão significado a esta cerimónia.

Por outras palavras. Esta cerimónia põe dois seres humanos em situação de empreender uma vida nova e é nesta cerimónia que os contraentes realizam essa profunda união de acordo com o seu próprio sentir.

Nós não os casamos – eles é que se casam diante da nossa comunidade.

Oficiante: E para que esta cerimónia seja própria e verdadeira, perguntamos: (dirigindo-se a um membro do casal) O que é para ti este casamento?

Aquele que é inquirido explica em voz alta...

Oficiante: (Dirigindo-se ao outro membro) O que é para ti este casamento?

Aquele que é inquirido explica em voz alta...

Oficiante: Por conseguinte, este casamento será de acordo com os desejos expressos e com as intenções mais profundas. (Saúda afetuosamente o/s casal/is).

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Assistência

Esta é uma cerimónia com muito afeto e exige que quem a realizar dê o melhor de si mesmo.

A cerimónia pode ser repetida a pedido do interessado ou de aqueles que cuidam dele.

O Oficiante a sós com o moribundo.

Seja qual for o aparente estado de lucidez ou inconsciência do moribundo, o oficiante aproxima-se dele, falando com voz suave, clara e pausada.

Oficiante: As recordações da tua vida são o julgamento das tuas ações. Podes, em pouco tempo, recordar muito do melhor que há em ti. Recorda então, mas sem sobressalto e purifica a tua memória. Recorda suavemente e tranquiliza a tua mente...

Faz silêncio durante uns minutos, retomando depois a palavra com o mesmo tom e intensidade.

Afasta agora o sobressalto e o desalento...

Afasta agora o desejo de fugir para regiões obscuras...

Afasta agora o apego às recordações...

Fica agora em liberdade interior, indiferente ao devaneio da paisagem...

…………………………………………………….

Agora toma a resolução de ascender...

A luz pura clareia nos cumes das altas cadeias montanhosas e as águas das mil-cores descem, por entre melodias irreconhecíveis, para mesetas e pradarias cristalinas...

Não temas a pressão da Luz que te afasta do seu centro cada vez mais fortemente. Absorve-a como se fosse um líquido ou um vento, porque nela certamente está a vida....

Quando na grande cadeia montanhosa encontres a cidade escondida deves conhecer a entrada. Mas isto sabê-lo-ás no momento em que a tua vida seja transformada. As suas enormes muralhas estão escritas em figuras, estão escritas em cores, estão ‘sentidas’. Nesta cidade guarda-se o feito e o por fazer...

Faz um breve silêncio, retomando depois a palavra com o mesmo tom e intensidade.

Estás reconciliado...

Estás purificado...

Prepara-te para entrares na mais bela Cidade da Luz. Nesta cidade jamais percecionada pelo olho, nunca escutada no seu canto pelo ouvido humano...

Vem, prepara-te para entrares na mais bela Luz...

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Morte

Oficiante: A vida cessou neste corpo. Devemos fazer um esforço para separar na nossa mente a imagem deste corpo da imagem de quem agora recordamos...

Este corpo não nos escuta. Este corpo não é quem nós recordamos...

Aquele que não sente a presença de outra vida separada do corpo, considere que ainda que a morte tenha paralisado o corpo, as ações realizadas continuam a atuar e a sua influência não se deterá jamais. Esta cadeia de ações desatadas em vida não pode ser detida pela morte. Que profunda é a meditação em torno desta verdade, ainda que não se compreenda totalmente a transformação de uma ação noutra!

E aquele que sente a presença de outra vida separada, considere igualmente que a morte só paralisou o corpo; que a mente uma vez mais libertou-se triunfalmente e abre passagem em direção à Luz...

Seja qual for o nosso parecer, não choremos os corpos. Meditemos antes na raiz das nossas crenças e uma suave e silenciosa alegria chegará até nós...

Paz no coração, luz no entendimento!

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Reconhecimento

O Reconhecimento é uma cerimónia de inclusão na Comunidade. Inclusão por experiências comuns, por ideais, atitudes e procedimentos partilhados.

Realiza-se a pedido de um conjunto de pessoas e após um Ofício. Aqueles que vão participar devem contar com o texto escrito.

Oficiante e Auxiliar de pé.

Auxiliar: A realização desta cerimónia foi pedida por aquelas pessoas que desejam incluir-se ativamente na nossa comunidade. Aqui se expressará um compromisso pessoal e conjunto para trabalhar pelo melhoramento da vida de cada um e pelo melhoramento da vida do nosso próximo.

O auxiliar convida aqueles que desejam dar testemunho a porem-se de pé.

Oficiante: A dor e o sofrimento que experimentam os seres humanos retrocederão se avançar o bom conhecimento, não o conhecimento ao serviço do egoísmo e da opressão.

O bom conhecimento conduz à justiça.

O bom conhecimento conduz à reconciliação.

O bom conhecimento conduz, também, a decifrar o sagrado na profundidade da consciência.

Auxiliar (e conjunto daqueles que testemunham, lendo):

Consideramos o ser humano como valor máximo acima do dinheiro, do Estado, da religião, dos modelos e dos sistemas sociais.

Impulsionamos a liberdade do pensamento.

Propiciamos a igualdade de direitos e a igualdade de oportunidades para todos os seres humanos.

Reconhecemos e alentamos a diversidade de costumes e culturas.

Opomo-nos a toda a discriminação.

Consagramos a resistência justa contra toda a forma de violência física, económica, racial, religiosa, sexual, psicológica e moral.

Oficiante: Por outro lado, assim como ninguém tem o direito de discriminar outros pela sua religião ou pela sua irreligiosidade, reivindicamos para nós o direito de proclamar a nossa espiritualidade e crença na imortalidade e no sagrado.

A nossa espiritualidade não é a espiritualidade da superstição, não é a espiritualidade da intolerância, não é a espiritualidade do dogma, não é a espiritualidade da violência religiosa; é a espiritualidade que despertou do seu sono profundo para nutrir os seres humanos nas suas melhores aspirações.

Auxiliar (e conjunto daqueles que testemunham, lendo):

Queremos dar coerência às nossas vidas fazendo coincidir o que pensamos, sentimos e fazemos.

Desejamos superar a má consciência reconhecendo os nossos fracassos.

Aspiramos a persuadir e a reconciliar.

Propomo-nos dar um crescente cumprimento a essa regra que nos recorda de tratar os outros como queremos ser tratados.

Oficiante: Começaremos uma vida nova.

Buscaremos no nosso interior os signos do sagrado e levaremos a outros a nossa mensagem.

Auxiliar (e conjunto daqueles que testemunham, lendo):

Hoje começaremos a renovação da nossa vida. Começaremos a procurar a paz mental e a Força que nos dê alegria e convicção. Depois, iremos até às pessoas mais próximas para partilhar com elas tudo o que de grande e bom nos aconteceu.

Oficiante: Para todos Paz, Força e Alegria.

Auxiliar (e todos os presentes):

Também para ti, Paz, Força e Alegria.

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O Caminho

Se crês que a tua vida termina com a morte, o que pensas, sentes e fazes não tem sentido. Tudo acaba na incoerência, na desintegração.

Se crês que a tua vida não termina com a morte, deve coincidir o que pensas com o que sentes e com o que fazes. Tudo deve avançar em direção à coerência, em direção à unidade.

Se és indiferente à dor e ao sofrimento dos outros, toda a ajuda que peças não encontrará justificação.

Se não és indiferente à dor e ao sofrimento dos outros, deves fazer que coincida o que sentes com o que penses e faças para ajudar outros.

Aprende a tratar os outros do modo como queres ser tratado.

Aprende a superar a dor e o sofrimento em ti, no teu próximo e na sociedade humana.

Aprende a resistir à violência que há em ti e fora de ti.

Aprende a reconhecer os signos do sagrado em ti e fora de ti.

 

Não deixes passar a tua vida sem te perguntares: "quem sou?".

Não deixes passar a tua vida sem te perguntares: "para onde vou?".

Não deixes passar um dia sem te responderes quem és.

Não deixes passar um dia sem te responderes para onde vais.

Não deixes passar uma grande alegria sem agradecer no teu interior.

Não deixes passar uma grande tristeza sem reclamar no teu interior aquela alegria que ficou guardada.

Não imagines que estás só na tua povoação, na tua cidade, na Terra e nos mundos infinitos.

Não imagines que estás acorrentado a este tempo e a este espaço.

Não imagines que na tua morte se eterniza a solidão.

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